Motores recondicionados, retificados, remanufaturados, reindustrializados, reconstruídos ou renovados?
Por Zauri Candeo
No início do serviço de reparação de veículos, quando consertava-se um motor, o produto deste processo era denominado “motor recondicionado”. Trabalho nobre, técnico e eficiente. Pouco a pouco, este tipo de serviço em algumas oficinas foi perdendo a qualidade, o que passou a ser denominado “meia sola”, como se estivesse sendo feito um recondicionamento completo, mas na verdade só eram trocadas algumas peças.
Deturpado esse mercado, com a má prestação de serviços de recondicionamento por oficinas que se passavam por retíficas, as empresas retificadoras com maquinários importados nos anos 60 passaram a denominar o motor como “retificado”, para diferenciarem-se da “meia sola”.
Novamente, os maus profissionais do mercado, com preços que sequer cobriam os custos das peças mínimas necessárias, voltaram a confundir os consumidores utilizando a mesma denominação. Nos anos 90, o fato se repetiu. Na tentativa de querer separar o joio do trigo, nasceu nova denominação: “motor remanufaturado”.
A APAREM decidiu não trocar a máscara, mas orientar os consumidores. Antes de confiar o recondicionamento de seu motor a uma retífica, visite-a pessoalmente, exija vistoriar o interior dela. Conhecendo a “cozinha”, conheça o processo, a qualidade, a relação de peças aplicadas, as máquinas retificadoras, as instalações, etc. Observe a limpeza, já que uma retífica perfeita, requer um laboratório de montagem de motor com material específico, com mão-de-obra qualificada. Verifique se a mesma possui ou está se preparando para uma certificação de qualidade. Só assim, em posse destas informações, você poderá conferir que aquele preço ofertado não compra o mínimo das peças necessárias, conforme demonstrativo dos serviços de usinagem e peças aplicadas conforme a Norma NBR 13.032, da ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas.
Em um conjunto fechado de motor, é obrigatório, no mínimo, a troca das peças abaixo relacionadas, pois são componentes que sofrem desgastes. Uma vez desmontadas e remontadas, estas peças não se acasalarão mais, em vista de terem sido amaciadas e desgastadas em locais diversos. Não trocadas, promovem danos futuros irreparáveis nas peças cativas do motor, tais como: bloco, cabeçote, virabrequim, entre outras.
De acordo com a NBR 13.032, os componentes que devem ser obrigatoriamente substituídos são: anel de segmento; êmbolo (pistão); camisa de água; casquilho de biela e mancal (bronzina); bucha de biela e de comando; corrente e/ou correia dentada; junta; tensor; retentor e pista do retentor; selo de água e de óleo; engrenagem de distribuição (fibra); filtro de óleo lubrificante; reparo da bomba de óleo e/ou bomba de óleo completa; válvula termostática; reparo da bomba de água e/ou bomba de água completa; injetor de óleo lubrificante (jet-cooler); válvula de alívio e/ou retenção; pino-guia; parafuso de biela, mancal e cabeçote.
A norma ainda prevê que as peças, o êmbolo (pistão), camisa de água e os parafusos devem seguir as recomendações do fabricante do motor quanto à sua reutilização.
É imprescindível que a retífica siga corretamente a norma da ABNT, para que os motores tenham potência, taxa de compressão, economia de combustível, menores emissões de poluentes, além de confiabilidade e durabilidade.
O custo das peças compreende, aproximadamente, 30% (trinta por cento) do valor de um recondicionamento.
Os serviços de desmontagem, banho químico, descarbonização, testes em magnaflux e hidrostático das peças que serão retificadas, usinagem do bloco, cilindro, virabrequim, cabeçote, comando, válvulas, tuchos, volante, pintura, funcionamento em banco de provas, impostos, encargos sociais, compreende, aproximadamente, a 70% (setenta por cento) do valor da retífica.
Portanto, desconfie quando a oferta dos serviços e do material não estiver dentro destes parâmetros. Com certeza o consumidor menos esclarecido pensará que estará pagando uma retífica completa, mas sequer estará levando uma “meia sola”.